quinta-feira, 11 de julho de 2019

A norma culta e a norma culta-padrão


Plano de aula de Língua Portuguesa

Professor: Márcio Alessandro de Oliveira.
Série: 1º Ano do ensino médio.
Tema: Formalidade e informalidade: norma culta e norma culta-padrão.
Título: A norma culta e a norma culta-padrão.
Pré-requisito: ter o português como língua materna (a primeira língua, adquirida na infância).
Recursos: quadro branco (ou lousa), pincel (ou giz), apagador e fotocópias.
Tempo previsto: 40 ou 50 minutos.
Metodologia: Aula expositiva dialogada.
Avaliação: Aplicação de folha de exercícios (Anexo II), extraídos de livro didático de Mauro Ferreira.
Objetivo geral: estabelecer as diferenças entre os diferentes níveis de registro de duas formas de manifestação do pensamento completamente diferentes: a fala e a escrita.
Objetivos específicos:
1. conceituar e exemplificar o registro linguístico;
2. dividir os tipos de registro em dois níveis: o formal e o informal;
3. subdividir o nível formal em culto e erudito;
4. subdividir o nível informal em chulo e coloquial;
5. reconhecer as diferenças entre a fala e a escrita;
6. mostrar que o contexto de comunicação e o gênero textual (falado ou escrito) condicionam a adequação e a inadequação do nível de formalidade ou informalidade;
7. mostrar as diferentes maneiras de dizer a mesma coisa;
8. demonstrar os efeitos de sentido de cada nível de registro e de cada escolha de palavra;
9. mostrar que, quando há variação, há avaliação e até preconceito linguístico.


Etapas:

1ª parte:
revisão do conteúdo da aula anterior;
2ª parte:
lançamento do conteúdo novo da aula, registrado no Anexo I para ser levado à lousa;
3ª parte:
explicação e exemplificação do conteúdo novo;
4ª parte:
fixação da matéria por meio de exercícios, registrados no Anexo II;
5ª parte:
dúvidas dos alunos, lição para o lar (Anexo III) e entrega de texto que fala da Linguística na sala de aula (Anexo IV).



Referências:

ABRAÇADO, Jussara; AMORIM, Carmelita Minelio da Silva; ROCHA, Lúcia Helena Peyroton da.  Aula 1 – Nossa língua normal: por um ensino de língua portuguesa centrado no uso. In: ___. Linguística IV. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2016.

AMORIM, Monika Benttenmüller; GONÇALVES, José Carlos.  Aula 1 – Português: Nossa Língua Materna? In: Português VIII. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2016.

BAGNO, Marcos. A mitologia do preconceito linguístico. In: ___. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 54. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1999-2011, pp. 39-40.

______. Gramática de bolso do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2013.

______. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: ___. Estética da Criação Verbal. SP: Martins Fontes, 2010.

BIAR, Liana; PINNA, Rafael; RABIN, Bruno. Pré-Vestibular Social: redação (v. 1). 4. ed. revisada. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2014.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed.  Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso. Nova Gramática do português contemporâneo.  5. ed., 7ª reimpressão. Rio de Janeiro: Lexicon, 2008.

FERREIRA, Mauro. Aprender e praticar gramática. São Paulo: FTD, 2007.

RODRIGUES, Gerson. Aula 2: Os gêneros e os modos de organização do discurso. In: ___ et al. Português VI. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2014.

SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. Trad. Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. 20. ed. São Paulo: Cultrix, 1995.

SANTOS, Ana Lúcia Cardoso dos; GRUMBACH, Gilda Maria. Didática para Licenciatura: Subsídios para a Prática de Ensino (volume 1 e 2). Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2012.

TEIXEIRA, Flávia A. R..  Aula 2: Gêneros Textuais. In: ___. Inglês Instrumental. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2015.


 Anexo I

A norma culta e a norma culta-padrão

“Comparando a língua culta com a língua coloquial, é possível constatar que, em certos aspectos, as diferenças entre as duas são bastante evidentes, mas, em outros, os limites não são tão claros, ficando difícil, nesses casos, definir uma ‘fronteira’ entre o que é culto e o que é coloquial.”

(Mauro Ferreira, 2007, p, 81.)

A norma culta é o modelo de língua verdadeiramente usado por falantes e redatores. Já a norma culta-padrão é idealizada com base em textos literários muito formais. Em resumo: a norma culta é real, ao passo que a norma culta-padrão é ideal (ou seja: existe só na ideia). Há casos em que o uso real da língua corresponde ao ideal de um padrão culto muito sofisticado, o que não anula as variações histórica, geográfica, sociocultural e de classe social da língua.
Todo texto pode variar em nível de formalidade e em nível de informalidade, conforme o esquema a seguir:

Registro formal: culto ou erudito;
Registro informal: coloquial ou chulo.

            Exemplos:

Língua coloquial:
Língua culta:
Pronúncia descuidada: “num sei”, “tá bão”.
Pronúncia mais cuidadosa: “não sei”, “está bom”.
Ausência de marcas de concordância: “Os menino vai bem”, “restou duas moedas”, “como fica as regras?”.
Presença de marcas de concordância: “Os meninos vão bem”, “restaram duas moedas”, “como ficam as regras?”.
Uso frequente de gírias.
Ausência de gírias.


            Tudo depende do contexto de comunicação e da pessoa a quem se dirige a palavra (falada ou escrita). Em outras palavras: a adequação e a inadequação do nível de registro (ou de estilo) dependem da situação.
Observação: A língua falada é muito diferente da língua escrita, pois escrever nunca é o mesmo que falar. Existe, portanto, uma diferença entre a relação falante-ouvinte e a relação escritor-leitor.

 Anexo II

Atividades:

1. Em cada situação a seguir, indique se a linguagem utilizada está adequada ou inadequada.

a) Um advogado, num tribunal de júri, diz: “Tá na cara que a testemunha tá enrolando”.

b) Um advogado, num tribunal de júri, diz: “É evidente que a testemunha está faltando com a verdade”.

c) Conversando com um amigo a respeito de um julgamento, um advogado afirma: “Tava na cara que a testemunha tava enrolando”.

d) Num velório, uma pessoa, ao cumprimentar a viúva, diz: “É extremamente doloroso, para mim, saber que seu marido bateu as botas”.

e) Um amigo diz ao outro, que costuma dirigir em alta velocidade: “Cuidado, a qualquer hora, você bate as botas”.

2. Numa sala de aula, um aluno diz a um colega: “Poderias fazer a fineza de emprestar-me a tua borracha?”. Essa situação é equivalente a

a) comparecer, usando short e chinelos, a uma audiência com um promotor.

b) comparecer, usando terno e gravata, a uma audiência com um promotor.

c) ir à praia de terno e gravata.

d) ir à praia sem camisa, de short e descalço.

e) ir a um baile de gala usando camiseta.


 Anexo III

Para o lar:

Adequação e inadequação linguística

Quando uma pessoa se comunica com outra(s), para que esse ato se realize de forma eficiente, é necessário que ela faça a adequação da linguagem.
Há situações em que a relação entre os interlocutores é mais descontraída, mais informal ou pessoal, casos em que fica mais adequado o emprego de uma linguagem informal, mais “solta”. Outras vezes, essa relação é mais impessoal, mais distanciada, o que requer uma linguagem mais formal, mais “cuidada”.
São vários os fatores que, isoladamente ou combinados, levam o falante a adequar sua linguagem às circunstâncias do ato de comunicação. Entre esses fatores destacam-se:
o interlocutor (não se fala do mesmo modo com um adulto e com uma criança);
o assunto (não se fala sobre a morte de uma pessoa da mesma maneira que se fala sobre a derrota do time de futebol);
o ambiente (não se fala do mesmo jeito em um templo religioso e em um churrasco com amigos);
a relação falante-ouvinte (não se fala da mesma maneira com um amigo e com um estranho; ou em uma relação social informal e em uma relação formal).
Em um ato de comunicação, a influência desse e de outros fatores resulta num maior ou menor grau de formalidade ou informalidade na linguagem.

(Mauro Ferreira. O universo da linguagem. In: ___. Aprender e praticar gramática. São Paulo: FTD, 2007, pp. 82-3.­)



 Texto II

SANTOS NOMES EM VÃO

Praxedes é gramático. Aristarco também. Com esses nomes não poderiam ser cantores de rock. Os dois trabalham num jornal. Praxedes despacha as questiúnculas à tarde. Aristarco, à noite. Um jamais concordou com uma vírgula sequer do outro, e é lógico que seja assim. Seguem correntes diversas. A gramática tem isso: é democrática. Permitindo mil versões, dá a quem sustenta uma delas o prazer de vencer.
Praxedes é um santo homem. Aristarco também. Assinam listas, compram rifas, ajudam quem precisa. E são educados. A voz dos dois é mansa, quase um sussurro. Mas que ninguém se atreva a discordar de um pronome colocado por Praxedes. Ou de uma crase posta por Aristarco. Se a conversa ameaça escorregar para os verbos defectivos ou para as partículas apassivadoras, melhor escapar enquanto dá. Porque aí cada um deles desanda a bramir como um leão.
Para que os dois não se matem, o chefe pôs cada um num horário. Praxedes, mais liberal (vendilhão, segundo Aristarco), trabalha nos suplementos do jornal, que admitem uma linguagem mais solta. Aristarco, ortodoxo (quadradão, segundo Praxedes), assume as vírgulas dos editoriais e das páginas de política e economia. [...]
Sempre estiveram a um passo do quebra-pau. Hoje, para festa dos ignorantes e dos mutiladores do idioma, parece que finalmente vão dar esse passo. É dia de pagamento e eles se encontram na fila do banco. Um intrigante vem pondo fogo nos dois há já um mês e agora ninguém duvida: nunca saberemos quem é o melhor gramático, mas hoje vamos descobrir quem é o mais eficiente no braço.
Aristarco toma a iniciativa. Avança e despeja:
— Seu patife, biltre, poltrão, pusilânime.
Praxedes responde à altura:
— Seu panaca, almofadinha, calhorda, caguincha.
Aristarco mete o dedo no nariz de Praxedes:
— É a vossa progenitora!
Praxedes toca o dedo no nariz de Aristarco:
— É a sua mãe!
Engalfinham-se, rolam pelo chão, esmurram-se.
Quando o segurança do banco chega para apartar, é tarde, Praxedes e Aristarco
estão desmaiados um sobre o outro, abraçados, como amigos depois de uma bebedeira.
O guarda pergunta à torcida o que aconteceu. Um boy que viu tudo desde o início explica:
— Pra mim, esses cara não é bom de bola. Eles começou a falá em estrangeiro, um estranhô o outro, os dois foram se esquentando, esquentando, e aí aquele ali, ó, que também fala brasileiro, pôs a mãe no meio. Levô uma bolacha e ficô doido: enfiô o braço no focinho do outro. Aí os dois rolô no chão.
Para a sorte do boy, Aristarco e Praxedes continuavam desacordados.

(Raul Drewnick, apud Mauro Ferreira. Aprender e praticar gramática. São Paulo: FTD, 2007, pp. 85-6.)


 Texto III

Os galicismos, na passagem do século XIX para o XX, e os anglicismos, na virada do terceiro milênio, não têm a força destruidora tão temida pelos puristas e conservadores. A língua portuguesa, em todo esse período, se manteve muito bem, obrigada, falada e escrita por cada vez mais gente, produziu uma literatura reconhecida mundialmente, é propagada também em nível internacional pelo grande prestígio de que goza a música popular brasileira — entre tantas outras provas de sua vitalidade. E a avalanche (ai, um galicismo!) de palavras estrangeiras tem de ser analisada da perspectiva da dependência político-econômica (e consequentemente cultural) do Brasil (e de Portugal) para com o centro hegemônico mundial de poder, que são os Estados Unidos. Não adianta bradar contra a “invasão” de palavras na língua portuguesa sem analisar essa dependência. É querer eliminar os efeitos sem atacar as causas.
E essa enorme bobagem de dizer que “brasileiro não sabe português” e que “só em Portugal se fala bem português”? É uma piada de mau gosto, infelizmente transmitida de geração a geração pelo ensino tradicional da gramática na escola.
O brasileiro sabe português, sim. O que acontece é que nosso português é diferente do português falado em Portugal. Quando dizemos que no Brasil se fala português, usamos esse nome simplesmente por comodidade e por uma razão histórica, justamente a de termos sido uma colônia de Portugal. Do ponto de vista linguístico, porém, a língua falada no Brasil já tem uma gramática — isto é, tem regras de funcionamento — que cada vez mais se diferencia da gramática da língua falada em Portugal. Por isso os linguistas (os cientistas da linguagem) preferem usar o termo português brasileiro, por ser mais preciso e marcar bem essa diferença.

(Marcos Bagno. A mitologia do preconceito linguístico. In: ___. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 54. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1999-2011, pp. 39-40.)

                                                               Atividades para o lar:

Levando em conta as características da linguagem no Texto I, responda às seguintes questões:

1. Os três personagens (Aristarco, Praxedes e o boy) utilizam o mesmo nível de linguagem? Explique.

2. O que o boy quis dizer ao afirmar que um dos dois gramáticos falava “brasileiro”?

3. Supondo que o relato do boy tivesse sido feito pelo gerente do banco, reescreva-o dentro do padrão culto da língua.

Agora, leia o texto abaixo e responda às questões 4 e 5:

Os nosso salário, cum relação ao que nóis fazemo e o lucro que os outros tem, é insignificante. Por que acontece isso? Eu tenho que trabaiá trezentos e sessenta e cinco dia por ano. O outro não trabaia nem... nem cem dia, ganha muito mais. Porque eu sô a máquina que dô descanso pra ele.

4. Reescreva o texto acima dentro do padrão culto do idioma.

5. O fato de o autor do discurso não se expressar de acordo com as regras da gramática normativa não o impede de ter plena consciência do problema que ele analisa. Qual é esse problema e que opinião ele tem a respeito?


ANEXO IV

A IMPORTÂNCIA DA LINGUÍSTICA EM SALA DE AULA

(Este texto é dedicado ao professor Marcos Bagno, que muito tem feito pela democracia.)

Em sonhos, a Linguística, que é uma deusa, veio até mim de minissaia. Acompanhada pelas ninfas da gramática, disse que estou no caminho certo: Eu me comporto não como linguista, mas como professor de língua. Como tal, tenho o dever de estar em dia com os textos de divulgação científica da Linguística como um sacerdote catedrático que faz cultivo do conhecimento, e não como vendedor de aulas de escolinhas e cursinhos de fundo de quintal. Minha deusa também disse que sou como o chão de fábrica, ao passo que os linguistas profissionais são como a gerência. Também disse que a gramática normativa, cujo objetivo principal nunca foi nem nunca será o de facilitar a comunicação, mas sim o de discriminar e oprimir os que não a conhecem, até descreve cientificamente bem o idioma. O problema dela é que impõe um modelo linguístico que ela considera superior. Também disse que posso continuar corrigindo os alunos, desde que eu deixe claro que seus “erros” são, na verdade, desvios gramaticais, desvios que um dia a norma culta-padrão poderá legitimar. Tome-se como exemplo o juiz Moro. Pode e deve ser corrigido. Afinal, ninguém gosta de barbarismos ou silabadas em situações comunicativas formais. É que elas, as situações formais, exigem monitoramento e esmero por parte do falante. Isso vale não apenas para a pronúncia: vale para a sintaxe também. Contudo, não se pode dizer que uma pessoa não sabe falar só porque não segue a norma culta. Quem fala “errado” na verdade fala certo. Do ponto de vista científico, o que o senso comum considera “erro” é apenas desvio da norma culta-padrão, que está sempre sendo atualizada. Basta ver a gramática de Bechara: já está na 38ª edição. Ela já não faz a distinção entre ONDE e AONDE, defendida por puristas. Para a Linguística, erro é dizer “Penduradas varal no calcinhas vi deliciosas” no lugar de “Vi calcinhas deliciosas penduradas no varal”. Na primeira construção, não há coesão: as palavras não estão conectadas, por isso a frase é agramatical; já na segunda sequência as palavras apresentam coesão. Dizer “As calcinha” é desvio ou incorreção, mas não é errado dizer “As calcinha”. Dependendo da situação comunicativa e do gênero textual, a gramática normativa não poderá ser seguida à risca em nome do pragmatismo das relações sociais: Uma fala muito “correta” pode ser pedante. Baseado na gramática gerativista (que é bem diferente da normativa), posso afirmar que ninguém diz  “O moça” nem “A rapaz”. Isso, sim, seria erro, e quem adquiriu o português na infância não fala nem escreve esses termos. O analfabeto não diz essas coisas. Também não diz “Nós vim” nem “Nós comi”: ele diz “Nós veio” e “Nós comeu”. Isso prova que ele sabe a diferença entre o singular e o plural. O plural dele apenas se desvia da norma culta-padrão. Isso, porém, não quer dizer que ele não saiba falar português. Ele é constituído pela língua e na língua. Dizer o contrário é praticar violência simbólica contra ele (acho que o conceito de violência simbólica é de Pierre Bourdieu). Na verdade, ele sabe falar muito bem. Com a educação escolar, ele poderá se apropriar das normas urbanas de prestígio. Estas, por sua vez, nem sempre estão em consonância com Bechara nem com os postulados dos puristas. É que Bechara e outros mantêm um escrúpulo filológico: postulam regras gramaticais unicamente com base em textos literários, cujo estilo ainda é muito artificial (a depender da época em que foram produzidos). Essa tradição vem da Grécia, e é extremamente conservadora e elitista. Nem os profissionais da palavra seguem à risca a norma culta-padrão, que é idealizada. As evidências comprovam que textos muito monitorados já revelam construções que exigem que a norma culta ideal faça concessões em nome da norma culta real. Muitas pessoas devidamente letradas já falam e escrevem “RestOU duas moedas” e “Como ficA as regras?” no lugar de “RestarAM duas moedas” e “Como ficAM as regras?”. Quando usam a ordem inversa, usam o plural “errado”. Cabe à gramática normativa se atualizar, pois esses “erros” são cometidos por pessoas letradas, e não acho que sejam ignorantes. No caso dos meus alunos, cujas falas eu corrijo e cujos erros de ortografia eu aponto, eu digo que podem falar “Nós veio” e “Nós vai”, mas deixo claro que poderão sofrer preconceito linguístico. “Nós vai” é uma variante estigmatizada, ao passo que “Nós vamos” é a variante de prestígio. A frase sempre é variável. O que deve ser feito, no caso do juiz fascista, é a divulgação de que Moro não consegue usar a norma culta, o que é muito ruim para um profissional da palavra que fala em momentos de formalidade.


Márcio Alessandro de Oliveira, licenciado em Letras (Português e Literaturas) pela Universidade Federal Fluminense, mestre em Estudos Literários pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e professor efetivo. Serra, ES, 8/4/2019. Últimas alterações: Serra, ES, 8/6/2019.