terça-feira, 6 de setembro de 2016

AULA 8: DA TEMPESTADE CEREBRAL AO ROTEIRO: O PLANEJAMENTO DE UM TEXTO PARA A PROVA DE REDAÇÃO DO ENEM

       Professor: Márcio Alessandro de Oliveira.
       Pré-requisito: leitura das aulas anteriores.
       Objetivos gerais:
       1º: mostrar as etapas pré-textual e textual do planejamento de um texto argumentativo apropriado para o Enem;
       2º: apresentar o rascunho como etapa subsequente do roteiro.
    Por quê?  Porque é preciso que o estudante saiba que todo bom texto é planejado, e o planejamento é condição fundamental da organização do texto escrito, muito diferente do texto falado.
       Para quê?  Para que, percorrendo as etapas, o aluno consiga superar os bloqueios à produção de texto.
       Objetivos específicos:
       1º: explicar a tempestade cerebral e mostrar que a fala pode ser ponto de partida para a escrita;
       2º: recapitular quatro conceitos: o de frase, o de oração, o de período e o de parágrafo.
       3º: demonstrar como se faz um parágrafo padrão (que tem de dois a três períodos);
       4º: fazer o aluno entender a necessidade de estabelecer uma tese com expressão valorativa;
      5º: mostrar que ela é o tópico frasal (ou tópico de parágrafo) da introdução dentro do parágrafo padrão (formado por dois ou três períodos);
       6º: trabalhar com causas e efeitos;
      7º: expor, em linhas gerais, a função da conclusão (outro parágrafo padrão), que, no Enem, deve conter proposta de intervenção.

       O planejamento de um texto argumentativo apropriado para o Enem: a tempestade cerebral e o roteiro.
       Após ou até mesmo durante a leitura atenta das instruções e da "correta" interpretação do tema (ações que evitam a fuga de gênero e a fuga total ou parcial de tema), o redator começa a listar, sem se preocupar com a sequência lógica das ideias, tudo o que lhe ocorre.  Isso acontece na fase pré-textual chamada tempestade cerebral.
       É oportuno dizer que o redator pensa no que gostaria de falar sobre o tema.  Embora falar nunca seja o mesmo que escrever, pode a fala ser o ponto de partida para a escrita.

Roteiro

       Anotadas as ideias de acordo com o fluxo de pensamentos, delimita-se a tese, a opinião a ser defendida, sem a qual não é possível traçar o caminho, a rota:
       Tema (recorte temático, assunto direcionado): Os desafios ambientais que o Brasil deve enfrentar no século XXI.
          (Observação número 1: Nunca é demais repetir: O tema no Enem é sempre uma situação-problema, e é sempre direcionado.O tema da última prova foi: A publicidade infantil em questão no Brasil.  Do assunto publicidade, foi feito um direcionamento.  Se um redator escrevesse sobre publicidade de modo geral, cairia no desvio parcial de tema, e por isso não obteria nota máxima. Outro exemplo: Do assunto violência, pode ser extraído o recorte temático violência contra a mulher.  O recorte é o direcionamento do assunto, que é feito pela banca elaboradora do Enem.  O tema violência contra a mulher pode ser ainda mais específico; assim: Violência contra a mulher na última década do século XX.)
         Tese (tópico frasal, ou tópico de parágrafo, da introdução): O Brasil, assim como outros países, pode atenuar significativamente os danos causados ao meio ambiente, que são um grave problema, sem prejudicar o desenvolvimento econômico.
        (Obervação número 2: É fundamental que o aluno note que a tese contém expressões que, por atribuírem juízo de valor, são valorativas.  Os termos grave problema e preocupante mostram um posicionamento diante da realidade, e sem eles o texto seria predominantemente expositivo.  Como se sabe, o objetivo é fazer com que ele seja preponderantemente argumentativo, o que só é possível com expressões valorativas e modalizadores discursivos, como os que já foram apontados.  Mais um exemplo de modalizador: Infelizmente, não fui a sua casa.  O advérbio revela um ponto de vista, e por isso é um modalizador discursivo.  É fundamental que a tese contenha um modalizador ou uma expressão valorativa.)

       Exemplo de roteiro

Causas
Argumentos (tópicos frasais)
Consequências
Soluções (intervenções)
Ganância de empresas; pouco reflorestamento; falta de fiscalização rigorosa e de medidas punitivas.
: Desmatamento da floresta amazônica.
Alteração dos ciclos de chuva; aumento do preço de alimentos oriundos da agricultura, que depende de chuva.
Aumento de fiscalização e de punições; aceleração do ritmo do reflorestamento.
Uso de combustíveis fósseis; despejo de esgoto industrial sem tratamento.
: Poluição do ar, de rios e mares.
Intensificação do efeito estufa, conhecida como aquecimento global; morte de animais aquáticos.
Fontes alternativas de energia, ou uso de energia limpa, como a energia solar; meios de transporte que não usem gasolina, como a bicicleta ou o trem elétrico; fiscalização e tratamento de esgoto.
Consumo desenfreado de bens; expansão das cidades.
: Excesso de lixo.
Acúmulo de lixo em áreas sem tratamento; contaminação do solo e de lençóis freáticos.
Reciclagem (que gera empregos).

         Importante: Depois do roteiro, que pode conter um título provisório, vem o rascunho.  Na prova de Redação do Enem, não é obrigatório o título, mas, se o vestibulando quiser elaborar um, não deve manter uma linha em branco entre ele e o parágrafo de introdução.
       Observação número 3: O tópico frasal, ou tópico de parágrafo, é a frase mais importante do parágrafo, que, no Enem, deve conter, no mínimo, duas frases e, no máximo, três.  Como todos nós sabemos, existe a frase nominal (sem verbos), e existe também a frase oracional, conhecida como período.  Pode ser organizada em uma única oração: a oração absoluta, componente do período simples, mas também pode ser organizada em duas ou mais orações.  Quando isso acontece, o período é composto.  Independentemente disso, contudo, ele, assim como a frase nominal, é sempre encerrado por: ponto final (.), ponto de interrogação (?), ponto de exclamação (!) (com algumas exceções para estes dois pontos) e, em alguns casos, por dois pontos (:).  Quem fizer a prova de Redação do Enem terá de ficar atento ao número de períodos de cada parágrafo, pois todo parágrafo deve ser o padrão.  Esse tipo de parágrafo costuma conter, no mínimo, duas frases e, no máximo, três.  Significa isso que cada parágrafo não deve conter mais do que três pontos finais.

***  
       Observação de número 4: É importante falar da dialética.  Um argumento favorável e outro desfavorável ao aborto, por exemplo, não é o ideal para uma prova igual ao Enem, pois a defesa de uma tese é como a venda de um produto, embora não seja condenável a apresentação de dois argumentos antagônicos; é apenas desaconselhável, principalmente no Enem.
        Conclusão (parágrafo de retomada ou reafirmação da tese e das intervenções): O antídoto está no próprio veneno.  
       Observação de número 5: O parágrafo de conclusão do Enem deve apresentar intervenções plausíveis.  O vestibulando deve pensar em um modo de contemplar as ONGs, a mídia, as escolas, os educadores e outros elementos mencionados no manual do Inep.
       Vejamos, agora, um exemplo de redação baseada no roteiro exposto nesta aula.  Não garanto nota máxima, mas é razoavelmente boa.

A conciliação entre ecologia e economia no atual Brasil
     Numa era em que é dominante o capital, é inevitável o xeque ao meio ambiente.  Entretanto, é possível tornar essa realidade menos preocupante, pois o Brasil pode atenuar significativamente os danos causados ao meio ambiente, que são um grave problema, sem prejudicar o desenvolvimento econômico. Para isso, terá de lidar com o desmatamento da floresta amazônica, a poluição do ar, de rios e mares e o excesso de lixo.
   A extração de madeira em áreas proibitivas da Amazônia e outras reservas da mata atlântica é fruto da ganância de empresas, que não se importam com a alteração nem com a diminuição dos ciclos de chuva, de que dependem a cidade, seus reservatórios e a agricultura, que estipula o preço de acordo com a colheita, influenciada pelo clima.
   A cidade também sofre, porque nela sobe a temperatura.  Como o ar nela é poluído em virtude do uso de gases expelidos por veículos automotores movidos a combustíveis fósseis, ocorre a intensificação perigosa do efeito estufa: o aquecimento global.
  Outro perigo a ser considerado é o excesso de lixo, uma consequência do consumo desenfreado.  Ele acaba sendo depositado em terrenos de modo a poluir lençóis freáticos.  Da mesma forma, lixo industrial é destinado a rios e mares.
   Diante do exposto, fica claro que o antídoto está no próprio veneno: se as atividades econômicas prejudicam o planeta, será com elas que empresas e governos brasileiros diminuirão os danos.  Ao mesmo tempo que usarem satélites para monitorar a Amazônia, deverão buscar energia limpa e aumentar a reciclagem do lixo.  Assim, imporão limites à derrubada de árvores, diminuirão a longo prazo o aquecimento global e gerarão empregos com centros de reciclagem, atividade que também depende da conscientização social estimulada pelos meios de comunicação.

       Não acho que o modelo acima seja uma redação nota mil, mas é uma redação razoavelmente boa.  Ainda não consigo calcular todas as considerações que a banca faria caso o tema fosse a situação-problema por mim escolhida, porém eu me atrevo a dizer que a proposta de intervenção pode não ser das melhores por ser de caráter capitalista, atributo que é pouco ou nada favorável ao meio ambiente, ainda que esteja na moda o sintagma desenvolvimento sustentável.  A fraqueza do parágrafo de conclusão do meu texto reside no fato de sua proposta de intervenção não mencionar ONGs nem outros elementos contemplados pelo manual de redação do Inep.  Cabe ao aluno, e não a mim, criar uma proposta de intervenção melhor. 
             Até a próxima aula.

   Referências bibliográficas:
       FERREIRA, Marina; PELLEGRINI, Tânia.  Redação, palavra e arte.  São Paulo: Atual, 1999.
  Inep.  A redação no Enem 2013: Guia do participante.  Brasília: 2013 (http://portal.inep.gov.br/web/enem/sobre-o-enem).
       MAGALHÃES, Diógenes.  Redação com base na Linguística (e não na Gramática).  10ª edição.  Rio de Janeiro: Edições Coisa Nossa, 2008.
       MONNERAT, Rosane; VIEGAS, IlanaRebello.  Português I (vol. II).  (Apostila da disciplina do curso de Letras da UFF.)  1ª edição.  Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2012.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

AULA 7: A IDENTIFICAÇÃO E A INTERPRETAÇÃO DO TEMA NA PROVA DE REDAÇÃO DO ENEM

            Professor: Márcio Alessandro de Oliveira.
            Objetivo geral: conhecer as especificidades do tema da prova de Redação do Enem.
Objetivos específicos:
: apresentar a diferença entre assunto e tema;
: identificar as palavras-chave e os modificadores, os quais direcionam o tema.
: encarar o tema da prova como uma situação-problema;
: reconhecer a diferença entre tema afirmativo e tema interrogativo;
            Pré-requisito: leitura de A Redação no Enem 2013: Guia do participante;
Observação: Será útil a capacidade de reconhecer sintagmas.

A identificação e a interpretação do tema na prova de Redação do Enem

assunto ≠ tema

       O assunto é amplo, o tema é específico, direcionado.  Do assunto violência, extraem-se os temas:

       A continuidade da violência contra a mulher no Brasil.
       Violência no trânsito no Brasil.
       Criminalidade urbana no município do Rio de Janeiro.

       Os substantivos em negrito são as palavras-chave, enquanto os modificadores, como adjetivos e advérbios, alteram tais palavras e lhes dão direcionamento e especificidade.  Os advérbios em questão, é claro, não modificam verbos, pois estes não estão presentes nos enunciados.  Contudo, as locuções adverbiais modificam toda a frase, conforme um dos ensinamentos de Celso Cunha e Lindley Cintra.
O aluno não é obrigado a identificar sintagmas e palavras-chave, as quais são os núcleos, as partes principais dos sintagmas.  Entretanto, esse procedimento é útil por facilitar a memorização, fundamental para quem quer evitar a fuga parcial ou total de tema.  A memória discursiva permite o esquecimento e os deslizamentos ou desvios de sentido, o qual, como diz Eni Orlandi, sempre pode ser outro, embora não possa ser qualquer um.
No Enem, o aluno não direciona o tema.  Quem faz isso é a banca.  Ao aluno cabe interpretar o tema já direcionado para produzir uma tese que a banca identifique claramente no texto, e que a ela, banca, mostre que o aluno interpretou o tema da maneira que ela esperava.
            No Enem, o tema, como em outros exames, é uma situação-problema
         O sentido não pode ser qualquer um.  Numa entrevista de emprego, o efeito que queremos causar é um, num discurso de formatura, o efeito desejado é outro.  A banca do Enem quer que o estudante saiba lidar com problemas de caráter social; da mesma forma, quer que saiba apresentar intervenções, sempre com respeito aos direitos humanos.  Assim como um rapaz pode perder a chance de iniciar um relacionamento durante um encontro noturno por falar só da ex-namorada a noite toda, um vestibulando pode perder uma nota alta por não produzir os efeitos que a banca quer.  Cada situação comunicativa exige um dizer próprio, e com a prova de Redação do Enem não é diferente.

Os temas mais acima são objetivos afirmativos, mas há os interrogativos.
Tema afirmativo: O funcionamento da Lei Seca em grandes cidades brasileiras.

Tema interrogativo: A Lei Seca tem funcionado como deveria?

Fico por aqui.  Até a próxima aula.

Referências bibliográficas:
BIAR, Liana; PINNA, Rafael; RABIN, Bruno.  Pré-vestibular social: redação. v. 1.  4 ed. revista.  Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2014.
CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso.  Nova gramática do português contemporâneo.  5ª edição.  Rio de Janeiro: Lexicon, 2008.
FERREIRA, Marina; PELLEGRINI, Tânia.  Redação, palavra e arte.  São Paulo: Atual, 1999.
INEP.  A Redação no Enem 2013: Guia do participante.  Brasília, 2013.
MAGALHÃES, Diógenes.  Redação com base na Linguística (e não na Gramática).  10ª edição.  Rio de Janeiro: Edições Coisa Nossa, 2008.
MONNERAT, Rosane; VIEGAS, Ilana Rebello.  Português I (vol. II).  (Apostila da disciplina do curso de Letras da UFF.)  1ª edição.  Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2012.
MARIANI, Bethania; DIAS, Juciele Pereira; BRANCO, Luiza Castello; LUNKES, Fernanda; TRAJANO, Rapahel de Morais.  Linguística V.  Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2015.

AULA 6: O GÊNERO TEXTUAL QUE NOS INTERESSA: REDAÇÃO DE ENEM E SUAS ESPECIFICIDADES

(AULA INCOMPLETA.)           

           Professor: Márcio Alessandro de Oliveira.
           Pré-requisito:
           Objetivo geral:
           Objetivos específicos:
           

A ARGUMENTAÇÃO, A EXPOSIÇÃO E O ENEM [TEXTO COMPLEMENTAR PARA A AULA 5]

       Quem quer tirar uma boa nota na prova de Redação do Enem tem de saber a diferença entre duas tipologias textuais: a argumentação e a exposição. Mas qual a diferença? E por que ela é tão importante?
       A argumentação é caracterizada por uma estrutura sintática com sujeito, verbo de ligação e predicativo; assim: A criminalidade urbana é um grave problema. O que realmente importa, contudo, não é a estrutura sintática, mas sim a expressão grave problema, que, por atribuir um juízo de valor, é valorativa. O que é um problema para um indivíduo pode ser vantajoso para a indústria de armas. Há, portanto, uma tese que apresenta um juízo de valor, e, para ser sustentada, o resto do texto apresentará argumentos que girarão em torno dela, de modo que ele será organizado em introdução, desenvolvimento e conclusão. Mesmo que o escrito seja classificado neste ou naquele gênero, será predominantemente argumentativo, pois a tipologia preponderante será a argumentação.
       A exposição é caracterizada pela ausência de expressões valorativas e também pela ausência de modalizadores discursivos. (Estes, aliás, também podem caracterizar a argumentação, anunciada pela tese, que pressupõe sempre uso de argumentos. Um exemplo de modalizador: Infelizmente, não fui à sua casa. Observe-se que o advérbio revela um ponto de vista, um posicionamento diante da realidade.) Os textos predominantemente expositivos apresentam uma tese mais "neutra" com relação entre fenômenos. Exemplo: A criminalidade urbana é um fenômeno causado pelos fatores x, y e z.
       Pode-se dizer que a tese de uma redação expositiva é uma interpretação da realidade, ao passo que a tese de um escrito argumentativo exige um posicionamento. Sendo assim, as dissertações expositivas trabalham mais com juízos de realidade, ao passo que as argumentativas apresentam um juízo de valor sobre os fatos. Exemplos de teses em que prevalece a exposição:
       A toda ação corresponde uma reação de igual intensidade em sentido contrário.
      Quanto maior a procura, maior o preço.
       As duas teses acima podem ser comprovadas com argumentos e demonstrações (principalmente com demonstrações: são teoremas), e também exigirão um modo de organização textual que pressupõe introdução, desenvolvimento e conclusão, mas não contêm expressões valorativas nem modalizadores discursivos.
       Tanto os textos dissertativos-argumentativos (artigo de opinião, carta argumentativa, carta de leitor que reclame a um jornal, editorial, redação de Enem) como os expositivos (dissertação de mestrado, artigo científico, ensaio) são caracterizados pela intenção de convencer ou persuadir o leitor (respeitadas as diferenças e as particularidades de cada gênero). Isso implica o destaque da função conativa da linguagem, que prevalece quando o emissor da mensagem quer convencer o receptor ou mudar o comportamento de quem lê ou escuta o discurso.
      (Alguns gêneros textuais são preponderantemente expositivos sem nenhuma tese central. É esse o caso de alguns (ou muitos) verbetes de enciclopédia. Se um verbete desse tipo apresenta como principal informação a existência de x espécies de insetos, há a exposição de um fenômeno, mas não há propriamente uma teoria ou teorema. Assim, não há a intenção de convencer nem de persuadir: há apenas o objetivo de informar, o que faz com que se destaque a função referencial da linguagem.)
      Por que é importante saber disso tudo? Porque o Enem exige que o redator faça um texto predominantemente argumentativo. Hoje, sabe-se que as bancas ficaram mais rigorosas. Com o uso de expressões valorativas e modalizadores, o candidato não cairá na fuga de tipologia textual.
      É fácil evitar tal fuga, pois o tema da prova é sempre uma situação-problema que exige proposta de intervenção. Quem se detiver para ler a redação modelo do manual Redação no Enem 2013: Guia do participante notará que a introdução dela contém a palavra problema. Isso não é coincidência...

       [Texto originalmente publicado no Facebook em 17/4/2015.  Foram feitas poucas alterações no original.]

domingo, 4 de setembro de 2016

AULA 5: TIPOLOGIAS E GÊNEROS TEXTUAIS

       (AULA INCOMPLETA.)      

       Professor: Márcio Alessandro de Oliveira.
       Pré-requisito:
       Objetivos gerais:

       : Estabelecer os conceitos de tipologia e gêneros textuaisPor quê?  Porque a distinção entre tipologia e gênero facilita os estudos de Redação, que, na opinião do professor, devem seguir as diretrizes do professor Luiz A. Marcuschi, lido por Gerson Rodrigues.  Para quê?  Para que o aluno entenda que a fuga de tipologia pode causar fuga de gênero em certos casos; entendendo isso, não cairá nesse erro no Enem ou no vestibular.
       2º: Fixar a diferença entre exposição e argumentaçãoPor quê?  Porque é preciso reconhecer a argumentação como tipo textual predominante nos textos exigidos no vestibular.  Para quê?  Para que o aluno consiga fazer com que a tipologia certa prevaleça na prova de Redação do Enem e dos vestibulares. 
       Objetivos específicos:
       : Mostrar e definir as tipologias (tipos de texto ou modos de organização do discurso).
       2º: Mostrar as características dos gêneros, mencionadas no texto que será levado à lousa.  (Está dentro do primeiro objetivo geral.)
       : Mostrar que a argumentação depende fundamentalmente de uma tese.
       : Mencionar gêneros em que predomina a argumentação.  (Estão dentro do segundo objetivo geral.)

       Tipologias e gêneros textuais

       Tipologia: Também conhecida como tipo textual, é a categoria de frase que pode ou não predominar no texto (oral ou escrito) de modo a determinar a sua estrutura (ou modo de organização textual) e até a sua classificação.

       Gênero textual (gênero discursivo): É a classificação que o texto recebe.  Como são muitas as atividades humanas, e como são muitos os meios de comunicação e os meios sociais de circulação dos textos (discursos), são ilimitados os gêneros textuais.

       Observação: O bilhete e a entrevista, por exemplo, são gêneros que não deixam de ser o que são mesmo quando neles há várias tipologias.  Dificilmente um texto é organizado em apenas uma tipologia.  Além disso, é comum que um gênero se sirva de outros.  Num romance, não é difícil encontrar cartas escritas por um dos personagens.

       Características dos gêneros e fatores que os determinam:

       
       função de mediar a comunicação de acordo com as intenções (objetivos), com o contexto (situação comunicativa) e com o tipo de receptor;
       elementos da comunicação;
       função (ou funções) da linguagem;
       uso de pelo menos uma tipologia;
       número quase ilimitado;
       estrutura composicional e estilo relativamente estáveis e socialmente instituídos e reconhecidos;
       esfera discursiva (esfera de circulação e esfera de atividades).

Diante da lista acima, podemos pensar em alguns exemplos.  Uma carta pessoal tem uma estrutura historicamente mantida e socialmente reconhecida, a qual a distingue da letra de uma canção, que, por sua vez, circula numa esfera muito diferente: a artística cultural.  Tal esfera é diferente da dos textos acadêmicos, restritos a um meio de circulação mais fechado. 


Tipologias:
      
       Descrição: Surge quando alguém aponta características qualitativas, quantitativas ou psicológicas de seres ou objetos (estáticos ou dinâmicos) no tempo e no espaço.  Um exemplo de texto predominantemente descritivo é o verbete de dicionário.

       Narração: É caracterizada por ações de personagens no tempo e no espaço, por verbos no passado e, em muitos casos, por gradação.  Os textos em que aparece contêm enredo e, às vezes, conflitos.  Por isso, apresenta os seguintes elementos:
Tempo Quando?
Espaço Onde?
Personagens Quem?
Enredo Por quê?

Gêneros narrativos:
relato;
relatório;
notícia;
reportagem;
conto;
novela;
romance.



       Injunção: É um comando (conselho, pedido, ordem, etc.).  A principal característica é o verbo no imperativo.  Está presente em alguns gêneros textuais considerados instrucionais.

       Exposição: Consiste na apresentação e, em muitos casos, na explicação de um fenômeno que pode ser vinculado a outros, para informar e até convencer o leitor ou ouvinte:
       Exemplo: Existem milhões de insetos no mundo.
       No exemplo acima, o objetivo da frase é informar.  Nos exemplos abaixo, a exposição é feita em forma de tese (ou teorema) para relacionar ou interpretar fenômenos da realidade de forma aparentemente neutra, imparcial:
       Quanto maior a demanda, maior o preço.
       A toda ação corresponde uma reação de igual intensidade em sentido contrário.
       A dissertação que girar em torno de uma dessas afirmativas tenderá a ser de caráter científico ou informativo, pois prevalecerá a função referencial da linguagem.  Sem dúvida, será predominantemente expositiva, e sua esfera poderá ser a acadêmica.

Gêneros expositivos:
verbete de enciclopédia;
artigo científico;
dissertação de mestrado;
tese de doutorado;
ensaio.

       Observação: É preciso averiguar se alguns concursos podem exigir uma dissertação expositiva, embora não seja esse o caso do Enem.

       Argumentação: É o modo de estruturar um texto que gire em torno de um ponto de vista, isto é, em torno de uma tese ou opinião, o que pode ser feito preferencialmente com modalizadores discursivos e expressões valorativas, com um sujeito, um verbo de ligação e um predicativo.
       Exemplos:
       É extremamente danosa para a sociedade a publicidade de produtos de grandes empresas.
       A criminalidade urbana é um grave problema.

Gêneros textuais argumentativos:
artigo jornalístico de opinião;
editorial;
carta do leitor;
carta argumentativa;
redação de Enem;
redação de vestibular da UERJ;
resenha crítica.




       OBSERVAÇÕES

       É importante dizer que o sujeito, o verbo e o predicativo compõem a tese em torno da qual girarão os argumentos, cuja função é convencer (no plano racional) e persuadir (no plano emocional) o leitor.  Isso fará com que se destaque a função conativa (apelativa) da linguagem.  Pode-se dizer que a defesa de uma tese é como a venda de um produto.É preciso lembrar o que é um verbo de ligação e o que é um predicativo; da mesma forma, é necessário enumerar os principais verbos copulativos.
       Igualmente importante é dizer que, embora a tese com expressão valorativa caracterize a argumentação, ela não é um argumento.  Como ideia central da introdução, é a ideia principal de todo o texto, e por isso funciona como um prelúdio ou prenúncio dos argumentos, porque é esperado que se usem argumentos em sua defesa, o que faz com que os textos argumentativos apresentem a conhecida estrutura dividida em introdução, desenvolvimento e conclusão, apesar de ser possível sustentar uma opinião com uma história.  Isso, naturalmente, não é aconselhável no vestibular, porque o objetivo do vestibulando é fazer com que prevaleça no escrito a argumentação, e não a narração.
       Se a argumentação, com a estrutura linguística já apontada, aparecer num parágrafo de desenvolvimento, fará sentido que ela seja vista como argumento ou como opinião partitiva de argumento, e não como tese central.
            Existe uma diferença entre exposição e argumentação.  Esta pode ser linguisticamente caracterizada por um verbo de ligação e um predicativo que formem uma expressão valorativa, componentes da tese (opinião) a ser defendida, embora nem sempre essa estrutura linguística esteja presente na argumentação; aquela, por sua vez, expõe fenômenos ou os relaciona.  Pode fazer isso apresentando um teorema, uma tese científica, como a da oferta e da demanda.
       Dois são os fatores que determinam a predominância de uma ou outra tipologia: o tema e a esfera discursiva.  Dependendo do tema, o autor do texto mostra um engajamento ou um juízo de valor (argumentação); na esfera acadêmica, tende a explicar ou refletir sobre fenômenos (exposição).  As principais diferenças entre a exposição e a argumentação são:
       o tema — a exposição, que pode predominar em certos gêneros textuais, como o ensaio, de caráter reflexivo e não definitivo, lida com fenômenos; a argumentação, principalmente quando prevalece num artigo de opinião, lida com uma situação-problema ou qualquer outro tema que exija posicionamento;
       e a tese — na argumentação, pode ser linguisticamente estruturada com os elementos já apontados, e é de caráter mais opinativo e subjetivo, embora possa ser apresentada com linguagem impessoal; na exposição é de caráter científico ou apenas lógico.
       Um exemplo de tese engajada, reveladora de posicionamento, é a do texto Cotas nas universidades, em que a tese é a antítese de outra.  Num texto preponderantemente expositivo, o autor não se posiciona nem contra nem a favor de uma ação ou de um produto, por exemplo.  Já um texto que diga que a criminalidade urbana é um grave problema (juízo de valor) em vez de apenas dizer que é um fenômeno com determinadas causas (juízo e análise da realidade) e defenda esse ponto de vista sustenta um juízo de valor: O que para cidadãos e governos é um problema, para a indústria de armas não é.
       As semelhanças entre os textos (gêneros textuais) expositivos e argumentativos são:
       certos recursos retóricos, como dialética e refutação (esses dois recursos são mais comuns em textos argumentativos);
       e exposição de causas e consequências.
      Por fim: a exposição pode aparecer em textos literários; e não é difícil imaginar a argumentação como tipologia presente ou até mesmo predominante num texto de cunho artístico.

       Mais observações:
       1ª: As expressões “É extremamente danosa” e “é um grave problema” são valorativas, mas nem sempre uma tese apresenta expressões com estrutura semelhante.  Exemplo: As críticas que se fazem ao vestibular se sustentam [ou seja: SÃO sustentáveis], mas as que se fazem às cotas [nas universidades] não. 
       2ª: Dissertar não é necessariamente o mesmo que argumentar.
       3ª: O posicionamento pode ser identificado quando há um modalizador discursivo em forma de advérbio.  Exemplo: As favelas nos grandes centros urbanos crescem assustadoramente.
       4ª: A tese gera a seguinte pergunta: Por quê?  Cada resposta será um tópico frasal.
     
       Expostas as diferenças entre exposição e argumentação, os alunos deverão saber que é fundamental definir, estabelecer uma tese, uma opinião, que pode apresentar um verbo de ligação na terceira pessoa.  É importante dizer que a tese é o tópico frasal, o tópico de parágrafo da introdução, pois é a ideia central do introito.

       A polêmica pode ser essencial, por exemplo, nos artigos de opinião (ainda que neles não exista tanta liberdade, já que a imprensa só publica pontos de vista que não vão de encontro aos interesses dos grupos econômicos e políticos a que serve), mas no mundo dos concursos o importante é impressionar as bancas examinadoras, que não querem ler nos textos palavras agressivas.  Um comentário a ser feito é este: Não adiantará polemizar se o redator cair no desabafo ou no manifesto; não adiantará polemizar se o redator desrespeitar os direitos humanos no Enem, que, aliás, evita temas polêmicos, apesar de exigir o predomínio da tipologia conhecida como argumentação, polêmica por excelência.

       Referências bibliográficas:

       CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar.  Português: Linguagens: volume 3.  7ª edição reform.  São Paulo: Saraiva, 2010.

       FERREIRA, Marina; PELLEGRINI, Tânia.  Redação, palavra e arte.  São Paulo: Atual, 1999.

       Inep.  A redação no Enem 2013: Guia do participante.  Brasília: 2013.

       MONNERAT, Rosane; VIEGAS, Ilana Rebello.  Português I (vol. II).  (Apostila da disciplina do curso de Letras da UFF.)  1ª edição.  Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2012.

       MAGALHÃES, Diógenes.  Redação com base na Linguística (e não na Gramática).  10ª edição.  Rio de Janeiro: Edições Coisa Nossa, 2008.

       RODRIGUES, Gerson (da UFRRJ).  Aula 2: Os gêneros e os modos de organização do discurso.  (Aula aproveitada na disciplina Português V do curso de Letras da modalidade EAD da UFF.)

       TEIXEIRA, Flávia A. R..  Aula 2: Gêneros Textuais.  (Aula da disciplina Língua estrangeira: inglês instrumental do curso de Letras da modalidade EAD da UFF.)  Rio de Janeiro: Fundação Cecierj (na Plataforma do Cederj), 2015.

       Referência audiovisual:

       KALIFE.  Aula 5: Texto dissertativo-argumentativo.  Aula De: https://www.youtube.com/watch?v=ij2OLilpnNM.  Vídeo visto em 4/2/2015.