terça-feira, 6 de setembro de 2016

AULA 8: DA TEMPESTADE CEREBRAL AO ROTEIRO: O PLANEJAMENTO DE UM TEXTO PARA A PROVA DE REDAÇÃO DO ENEM

       Professor: Márcio Alessandro de Oliveira.
       Pré-requisito: leitura das aulas anteriores.
       Objetivos gerais:
       1º: mostrar as etapas pré-textual e textual do planejamento de um texto argumentativo apropriado para o Enem;
       2º: apresentar o rascunho como etapa subsequente do roteiro.
    Por quê?  Porque é preciso que o estudante saiba que todo bom texto é planejado, e o planejamento é condição fundamental da organização do texto escrito, muito diferente do texto falado.
       Para quê?  Para que, percorrendo as etapas, o aluno consiga superar os bloqueios à produção de texto.
       Objetivos específicos:
       1º: explicar a tempestade cerebral e mostrar que a fala pode ser ponto de partida para a escrita;
       2º: recapitular quatro conceitos: o de frase, o de oração, o de período e o de parágrafo.
       3º: demonstrar como se faz um parágrafo padrão (que tem de dois a três períodos);
       4º: fazer o aluno entender a necessidade de estabelecer uma tese com expressão valorativa;
      5º: mostrar que ela é o tópico frasal (ou tópico de parágrafo) da introdução dentro do parágrafo padrão (formado por dois ou três períodos);
       6º: trabalhar com causas e efeitos;
      7º: expor, em linhas gerais, a função da conclusão (outro parágrafo padrão), que, no Enem, deve conter proposta de intervenção.

       O planejamento de um texto argumentativo apropriado para o Enem: a tempestade cerebral e o roteiro.
       Após ou até mesmo durante a leitura atenta das instruções e da "correta" interpretação do tema (ações que evitam a fuga de gênero e a fuga total ou parcial de tema), o redator começa a listar, sem se preocupar com a sequência lógica das ideias, tudo o que lhe ocorre.  Isso acontece na fase pré-textual chamada tempestade cerebral.
       É oportuno dizer que o redator pensa no que gostaria de falar sobre o tema.  Embora falar nunca seja o mesmo que escrever, pode a fala ser o ponto de partida para a escrita.

Roteiro

       Anotadas as ideias de acordo com o fluxo de pensamentos, delimita-se a tese, a opinião a ser defendida, sem a qual não é possível traçar o caminho, a rota:
       Tema (recorte temático, assunto direcionado): Os desafios ambientais que o Brasil deve enfrentar no século XXI.
          (Observação número 1: Nunca é demais repetir: O tema no Enem é sempre uma situação-problema, e é sempre direcionado.O tema da última prova foi: A publicidade infantil em questão no Brasil.  Do assunto publicidade, foi feito um direcionamento.  Se um redator escrevesse sobre publicidade de modo geral, cairia no desvio parcial de tema, e por isso não obteria nota máxima. Outro exemplo: Do assunto violência, pode ser extraído o recorte temático violência contra a mulher.  O recorte é o direcionamento do assunto, que é feito pela banca elaboradora do Enem.  O tema violência contra a mulher pode ser ainda mais específico; assim: Violência contra a mulher na última década do século XX.)
         Tese (tópico frasal, ou tópico de parágrafo, da introdução): O Brasil, assim como outros países, pode atenuar significativamente os danos causados ao meio ambiente, que são um grave problema, sem prejudicar o desenvolvimento econômico.
        (Obervação número 2: É fundamental que o aluno note que a tese contém expressões que, por atribuírem juízo de valor, são valorativas.  Os termos grave problema e preocupante mostram um posicionamento diante da realidade, e sem eles o texto seria predominantemente expositivo.  Como se sabe, o objetivo é fazer com que ele seja preponderantemente argumentativo, o que só é possível com expressões valorativas e modalizadores discursivos, como os que já foram apontados.  Mais um exemplo de modalizador: Infelizmente, não fui a sua casa.  O advérbio revela um ponto de vista, e por isso é um modalizador discursivo.  É fundamental que a tese contenha um modalizador ou uma expressão valorativa.)

       Exemplo de roteiro

Causas
Argumentos (tópicos frasais)
Consequências
Soluções (intervenções)
Ganância de empresas; pouco reflorestamento; falta de fiscalização rigorosa e de medidas punitivas.
: Desmatamento da floresta amazônica.
Alteração dos ciclos de chuva; aumento do preço de alimentos oriundos da agricultura, que depende de chuva.
Aumento de fiscalização e de punições; aceleração do ritmo do reflorestamento.
Uso de combustíveis fósseis; despejo de esgoto industrial sem tratamento.
: Poluição do ar, de rios e mares.
Intensificação do efeito estufa, conhecida como aquecimento global; morte de animais aquáticos.
Fontes alternativas de energia, ou uso de energia limpa, como a energia solar; meios de transporte que não usem gasolina, como a bicicleta ou o trem elétrico; fiscalização e tratamento de esgoto.
Consumo desenfreado de bens; expansão das cidades.
: Excesso de lixo.
Acúmulo de lixo em áreas sem tratamento; contaminação do solo e de lençóis freáticos.
Reciclagem (que gera empregos).

         Importante: Depois do roteiro, que pode conter um título provisório, vem o rascunho.  Na prova de Redação do Enem, não é obrigatório o título, mas, se o vestibulando quiser elaborar um, não deve manter uma linha em branco entre ele e o parágrafo de introdução.
       Observação número 3: O tópico frasal, ou tópico de parágrafo, é a frase mais importante do parágrafo, que, no Enem, deve conter, no mínimo, duas frases e, no máximo, três.  Como todos nós sabemos, existe a frase nominal (sem verbos), e existe também a frase oracional, conhecida como período.  Pode ser organizada em uma única oração: a oração absoluta, componente do período simples, mas também pode ser organizada em duas ou mais orações.  Quando isso acontece, o período é composto.  Independentemente disso, contudo, ele, assim como a frase nominal, é sempre encerrado por: ponto final (.), ponto de interrogação (?), ponto de exclamação (!) (com algumas exceções para estes dois pontos) e, em alguns casos, por dois pontos (:).  Quem fizer a prova de Redação do Enem terá de ficar atento ao número de períodos de cada parágrafo, pois todo parágrafo deve ser o padrão.  Esse tipo de parágrafo costuma conter, no mínimo, duas frases e, no máximo, três.  Significa isso que cada parágrafo não deve conter mais do que três pontos finais.

***  
       Observação de número 4: É importante falar da dialética.  Um argumento favorável e outro desfavorável ao aborto, por exemplo, não é o ideal para uma prova igual ao Enem, pois a defesa de uma tese é como a venda de um produto, embora não seja condenável a apresentação de dois argumentos antagônicos; é apenas desaconselhável, principalmente no Enem.
        Conclusão (parágrafo de retomada ou reafirmação da tese e das intervenções): O antídoto está no próprio veneno.  
       Observação de número 5: O parágrafo de conclusão do Enem deve apresentar intervenções plausíveis.  O vestibulando deve pensar em um modo de contemplar as ONGs, a mídia, as escolas, os educadores e outros elementos mencionados no manual do Inep.
       Vejamos, agora, um exemplo de redação baseada no roteiro exposto nesta aula.  Não garanto nota máxima, mas é razoavelmente boa.

A conciliação entre ecologia e economia no atual Brasil
     Numa era em que é dominante o capital, é inevitável o xeque ao meio ambiente.  Entretanto, é possível tornar essa realidade menos preocupante, pois o Brasil pode atenuar significativamente os danos causados ao meio ambiente, que são um grave problema, sem prejudicar o desenvolvimento econômico. Para isso, terá de lidar com o desmatamento da floresta amazônica, a poluição do ar, de rios e mares e o excesso de lixo.
   A extração de madeira em áreas proibitivas da Amazônia e outras reservas da mata atlântica é fruto da ganância de empresas, que não se importam com a alteração nem com a diminuição dos ciclos de chuva, de que dependem a cidade, seus reservatórios e a agricultura, que estipula o preço de acordo com a colheita, influenciada pelo clima.
   A cidade também sofre, porque nela sobe a temperatura.  Como o ar nela é poluído em virtude do uso de gases expelidos por veículos automotores movidos a combustíveis fósseis, ocorre a intensificação perigosa do efeito estufa: o aquecimento global.
  Outro perigo a ser considerado é o excesso de lixo, uma consequência do consumo desenfreado.  Ele acaba sendo depositado em terrenos de modo a poluir lençóis freáticos.  Da mesma forma, lixo industrial é destinado a rios e mares.
   Diante do exposto, fica claro que o antídoto está no próprio veneno: se as atividades econômicas prejudicam o planeta, será com elas que empresas e governos brasileiros diminuirão os danos.  Ao mesmo tempo que usarem satélites para monitorar a Amazônia, deverão buscar energia limpa e aumentar a reciclagem do lixo.  Assim, imporão limites à derrubada de árvores, diminuirão a longo prazo o aquecimento global e gerarão empregos com centros de reciclagem, atividade que também depende da conscientização social estimulada pelos meios de comunicação.

       Não acho que o modelo acima seja uma redação nota mil, mas é uma redação razoavelmente boa.  Ainda não consigo calcular todas as considerações que a banca faria caso o tema fosse a situação-problema por mim escolhida, porém eu me atrevo a dizer que a proposta de intervenção pode não ser das melhores por ser de caráter capitalista, atributo que é pouco ou nada favorável ao meio ambiente, ainda que esteja na moda o sintagma desenvolvimento sustentável.  A fraqueza do parágrafo de conclusão do meu texto reside no fato de sua proposta de intervenção não mencionar ONGs nem outros elementos contemplados pelo manual de redação do Inep.  Cabe ao aluno, e não a mim, criar uma proposta de intervenção melhor. 
             Até a próxima aula.

   Referências bibliográficas:
       FERREIRA, Marina; PELLEGRINI, Tânia.  Redação, palavra e arte.  São Paulo: Atual, 1999.
  Inep.  A redação no Enem 2013: Guia do participante.  Brasília: 2013 (http://portal.inep.gov.br/web/enem/sobre-o-enem).
       MAGALHÃES, Diógenes.  Redação com base na Linguística (e não na Gramática).  10ª edição.  Rio de Janeiro: Edições Coisa Nossa, 2008.
       MONNERAT, Rosane; VIEGAS, IlanaRebello.  Português I (vol. II).  (Apostila da disciplina do curso de Letras da UFF.)  1ª edição.  Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2012.

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