segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A ARGUMENTAÇÃO, A EXPOSIÇÃO E O ENEM [TEXTO COMPLEMENTAR PARA A AULA 5]

       Quem quer tirar uma boa nota na prova de Redação do Enem tem de saber a diferença entre duas tipologias textuais: a argumentação e a exposição. Mas qual a diferença? E por que ela é tão importante?
       A argumentação é caracterizada por uma estrutura sintática com sujeito, verbo de ligação e predicativo; assim: A criminalidade urbana é um grave problema. O que realmente importa, contudo, não é a estrutura sintática, mas sim a expressão grave problema, que, por atribuir um juízo de valor, é valorativa. O que é um problema para um indivíduo pode ser vantajoso para a indústria de armas. Há, portanto, uma tese que apresenta um juízo de valor, e, para ser sustentada, o resto do texto apresentará argumentos que girarão em torno dela, de modo que ele será organizado em introdução, desenvolvimento e conclusão. Mesmo que o escrito seja classificado neste ou naquele gênero, será predominantemente argumentativo, pois a tipologia preponderante será a argumentação.
       A exposição é caracterizada pela ausência de expressões valorativas e também pela ausência de modalizadores discursivos. (Estes, aliás, também podem caracterizar a argumentação, anunciada pela tese, que pressupõe sempre uso de argumentos. Um exemplo de modalizador: Infelizmente, não fui à sua casa. Observe-se que o advérbio revela um ponto de vista, um posicionamento diante da realidade.) Os textos predominantemente expositivos apresentam uma tese mais "neutra" com relação entre fenômenos. Exemplo: A criminalidade urbana é um fenômeno causado pelos fatores x, y e z.
       Pode-se dizer que a tese de uma redação expositiva é uma interpretação da realidade, ao passo que a tese de um escrito argumentativo exige um posicionamento. Sendo assim, as dissertações expositivas trabalham mais com juízos de realidade, ao passo que as argumentativas apresentam um juízo de valor sobre os fatos. Exemplos de teses em que prevalece a exposição:
       A toda ação corresponde uma reação de igual intensidade em sentido contrário.
      Quanto maior a procura, maior o preço.
       As duas teses acima podem ser comprovadas com argumentos e demonstrações (principalmente com demonstrações: são teoremas), e também exigirão um modo de organização textual que pressupõe introdução, desenvolvimento e conclusão, mas não contêm expressões valorativas nem modalizadores discursivos.
       Tanto os textos dissertativos-argumentativos (artigo de opinião, carta argumentativa, carta de leitor que reclame a um jornal, editorial, redação de Enem) como os expositivos (dissertação de mestrado, artigo científico, ensaio) são caracterizados pela intenção de convencer ou persuadir o leitor (respeitadas as diferenças e as particularidades de cada gênero). Isso implica o destaque da função conativa da linguagem, que prevalece quando o emissor da mensagem quer convencer o receptor ou mudar o comportamento de quem lê ou escuta o discurso.
      (Alguns gêneros textuais são preponderantemente expositivos sem nenhuma tese central. É esse o caso de alguns (ou muitos) verbetes de enciclopédia. Se um verbete desse tipo apresenta como principal informação a existência de x espécies de insetos, há a exposição de um fenômeno, mas não há propriamente uma teoria ou teorema. Assim, não há a intenção de convencer nem de persuadir: há apenas o objetivo de informar, o que faz com que se destaque a função referencial da linguagem.)
      Por que é importante saber disso tudo? Porque o Enem exige que o redator faça um texto predominantemente argumentativo. Hoje, sabe-se que as bancas ficaram mais rigorosas. Com o uso de expressões valorativas e modalizadores, o candidato não cairá na fuga de tipologia textual.
      É fácil evitar tal fuga, pois o tema da prova é sempre uma situação-problema que exige proposta de intervenção. Quem se detiver para ler a redação modelo do manual Redação no Enem 2013: Guia do participante notará que a introdução dela contém a palavra problema. Isso não é coincidência...

       [Texto originalmente publicado no Facebook em 17/4/2015.  Foram feitas poucas alterações no original.]

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