Professor: Márcio Alessandro de Oliveira.
Objetivo: Fixar os conceitos que compõem o título desta aula.
Pré-requisito: Leitura da Aula inaugural (http://aulasderedacaoparaoenem.blogspot.com.br/2016/09/curso-de-leitura-eproducao-de-texto.html).
Fixem-se os conceitos e
as explicações abaixo:
1. Linguagem: 1. Capacidade de estabelecer comunicação. 2.
Conjunto de sinais usados para estabelecê-la que podem ser linguísticos
(verbais) ou não. (Toda coisa que
represente outra é um sinal. Um charco,
também conhecido como poça de água, é sinal de chuva passada ou presente; da
mesma forma, o vento pode ser sinal de que vai chover.)
1.1. Linguagens não verbais: São aquelas
formadas pelos seguintes signos, sinais que representam ou indicam coisas (e é
importante saber que NÃO se trata de signos zodiacais):
índices;
ícones;
(Segundo o Minidionário Escolar da Língua Portuguesa,
de Dermival Ribeiro Rios, ícone é a imagem da Virgem, de Cristo ou dos santos
na igreja ortodoxa. E existe a
iconografia, que estuda e descreve medalhas, imagens, pinturas, etc.)
símbolos NÃO VERBAIS
(não linguísticos).
O balanço da cauda de
um cachorro é um índice; o desenho de uma casa pode ser um ícone; e os símbolos
exigem interpretação ou fixação do seu significado por meio da tradição. A cruz, antes de Cristo, era um símbolo com
um significado bem diferente. Uma
criança que não seja educada ou instruída não pode ligar o símbolo da cruz a
seu significado atual. O índice e o
ícone dispensam a educação: podem ser entendidos sem que uma geração mais
antiga revele à outra, mais nova, o que eles representam.
Os símbolos são a
matéria-prima de qualquer discurso. Todo
discurso é uma mensagem, mas nem toda mensagem é um discurso. Este só pode ser produzido por seres
históricos, isto é: por seres que têm a certeza da mortalidade, possível graças
ao senso de narrativa dos seres humanos, que sabem que a história de toda
pessoa tem início, meio e fim. Desse
modo, um cachorro faminto pode ser "eloquente" quando pede comida
latindo (os latidos são índices; cães usam apenas índices para indicar ou
externar o que sentem: símbolos, linguísticos ou não, são usados apenas por
humanos, a despeito de os cachorros supostamente sonharem, e sonhos contêm
símbolos, de acordo com a teoria de Freud), mas, apesar de seu eventual
instinto de sobrevivência diante, por exemplo, de um carro em alta velocidade,
do qual pode tentar escapar ou se proteger, não se vê como um ser que sabe que
vai morrer de morte natural; da mesma forma, não se vê como um ser que sabe,
nem como um ser que sabe que sabe, pois, de fato, não tem faculdade para nada
disso. Só os humanos produzem discursos
em forma de pinturas, músicas, esculturas, poemas, etc. Os cães, estes podem apenas produzir
mensagens.
1.2. Língua (ou linguagem verbal): Conjunto de signos linguísticos (palavras) que
sofre as variações histórica, geográfica, social e de idade. Trata-se de um conjunto de símbolos VERBAIS
(linguísticos).
Os signos linguísticos
podem carregar sentido figurado (coisa que não existe na linguagem
animal). Contam com um conjunto de
regras de formação, significação, seleção e combinação de palavras (gramática). Pode a língua ser artificial (criada em
laboratório, como o esperanto). Também
pode contar com duas modalidades: a falada e a escrita. (Nem todas as comunidades humanas inventaram
a escrita, que pode ser fonográfica, como a nossa, ou ideográfica, como a dos
chineses.)
As línguas de sinais
são línguas mesmo, e não meras linguagens, pois sofrem as variações histórica,
social e de idade. Também contêm gírias
e sentido figurado, e são instituições, assim como a Língua Portuguesa e as
demais línguas baseadas no som. A
diferença entre estas e as de sinais é que toda língua de sinais usa signos
visuais, e não auditivos. Detalhe: cada
país tem sua própria língua de sinais.
É importante frisar que
toda língua varia. A variação geográfica
é provada com os dialetos, variedades regionais de um idioma marcadas por
traços da pronúncia, do vocabulário e da sintaxe. Os romances eram dialetos do latim vulgar, e
deram origem às línguas neolatinas, também conhecidas como línguas românicas.
A ARBITRARIEDADE DO SIGNO
LINGUÍSTICO
Toda palavra é um signo
linguístico formado por uma sequência de sons, e todo signo é uma coisa que
está no lugar de outra, de modo que a primeira possa representar a
segunda. Assim, elefante está aqui no lugar daquele animal. A sequência de sons é
como uma fotografia. Por isso diz-se que ela (a sequência) é (que nem) uma
imagem acústica. É claro que não se
trata de uma imagem de verdade, assim como o orelhão, o telefone público, não é
uma orelha de verdade. Mas são
parecidos. Como a função do conjunto de
fonemas é idêntica a de uma foto...
Essa sequência também é
conhecida como significante, e está ligada ao significado, que, por sua vez, é
um conceito, uma coisa abstrata que temos na mente por causa de algo
concreto. (Significante é o que produz
significado.) O elefante não pode ficar
na mente. O que nela fica é o conceito elefante. E a sequência de fonemas
elefante (/e/ /l/ /e/ /f/ /ã/ /t/ /i/) não se liga ao animal: liga-se ao
conceito, ao significado. Este, por sua
vez, está ligado ao ser físico, concreto. (Palavras há que designam coisas
puramente abstratas. É esse o caso de felicidade,
de ódio, de bondade e de outros vocábulos que denominam coisas não físicas,
isto é: coisas que não são externas ao corpo e que não se podem experimentar
com pelo menos um dos cinco sentidos.
Elas são reais, mas não são físicas.
Obviamente não podem existir por si sós: não há, por exemplo, felicidade
sozinha: o que há são pessoas felizes.)
É arbitrária a ligação
entre significante e significado, conforme o postulado de Ferdinand de
Saussure, linguista genebrino que formulou a teoria aqui reproduzida. Assim, cada língua usa um significante
diferente para um mesmo ser ou objeto: o que os povos de língua inglesa chamam
de water nós chamamos de água.
O significante é de
dupla natureza: há a natureza psíquica e a natureza física. Vejamos: Eu olho para uma lagartixa pela
primeira vez na vida, abstraio (isto é, extraio) a imagem dela e gravo-a na
memória:
lagartixa (ser físico) → conceito memorizado (significado) → substantivo
lagartixa (significante também
memorizado que pode ser pronunciado ou escrito)
Se em vez de pronunciar
“lagartixa” eu falo “laRgatixa”, o significante não ficou “nítido” na
memória. (Essa é a natureza psíquica do
signo.) Agora: se digo “lagartixa”, o
significante ficou bem gravado na memória, e é perfeita a materialização, isto
é: a produção de fones (que obviamente se dá na minha boca). (Essa é a natureza física do signo.) Sem a materialização, não existe conversa,
porque sem ela não ocorre produção de significado na mente do ouvinte.
Obviamente a
materialização do signo também se dá quando escrevemos, mas é preciso entender
que nem todas as línguas contam com a modalidade escrita. E das que se escrevem nem todas usam
silabários, como o japonês, ou grafemas ou fonogramas (letras que representam
sons) como os do alfabeto romano: algumas usam ideogramas, como o chinês.
O significante é a
parte acústica do signo; este, quando escrito, também se torna algo físico, mas
só para a visão: a sua parte sonora é realmente física apenas quando a palavra
é enunciada de viva voz, pois só desse modo a audição é usada.
Por fim: É óbvio que a
materialização sonora do signo é muito diferente da materialização visual,
porque falar é muito diferente de escrever.
A língua escrita e a língua falada são formas completamente diferentes
de manifestação do pensamento. Isso se
comprova não só nas dificuldades ortográficas (veja-se, por exemplo, o caso da
letra X e os sons por ela representados em português), mas também nas situações
comunicativas, no suporte físico do discurso escrito (como o papel ou o teclado
do computador), no processo de elaboração de um escrito, que não recebe o
auxílio das inflexões de voz, e em muitos outros fatores que geram enormes
diferenças.
SEMIOLOGIA E LINGUÍSTICA
A Semiologia, também conhecida
como Semiótica, estuda todos os signos e, portanto, todas as linguagens, assim
como estuda também todas as mensagens, todos os discursos e seus significados. A Linguística, por sua vez, estuda apenas os
signos linguísticos e todas as línguas conhecidas. Assim, se um motorista começa a buzinar para
outro, o linguista não verá na mensagem dele um objeto de estudo, mas o
semiólogo sim. Os sons da buzina são uma
linguagem, mas não são uma língua. Se,
no entanto, o motorista gritar: “Sai da frente!”, o linguista e o semiólogo
terão um objeto de estudo em comum.
Há quem faça distinção
entre Semiologia e Semiótica. Esta pode
ser dividida em mais de uma corrente, como a semiótica discursiva. Mas, independentemente das correntes da
Semiótica e das diferenças entre ela e a Linguística, ambas as ciências tem
algo em comum: a comunicação.
(Umberto Eco era
semiólogo. Saussure, Jakobson, Bakhtin e
Chomsky são grandes nomes da Linguística.)
Observações:
1ª: Estudar uma língua
não é estudar Linguística, assim como estudar Linguística não é estudar língua,
embora o professor de língua, que NÃO é necessariamente um linguista, enuncie e
aplique os conhecimentos da Linguística em aula. O linguista produz conhecimentos científicos,
ao passo que o professor de língua enuncia esses tais. O trabalho de um é científico, o do outro,
pedagógico. O professor não tem a
obrigação de produzir conhecimento científico, mas tem o dever de estar em dia
com ele por meio da leitura de textos de divulgação científica, escritos por
autores que já provaram que não há nem o certo nem o errado na língua.
2ª: Tanto a Semiologia
como a Linguística partem do princípio de que, ao transmitirmos ideias ou
sentimentos por meio de uma linguagem ou de duas ou mais, provamos que somos
capazes de transformar um objeto em informação.
Isso quer dizer que primeiro vem o mundo, e depois a linguagem que o
representa ou o enuncia. Contudo,
poderia a linguagem dar origem ao mundo?
Segundo a Bíblia, sim, e há quem diga que a matemática seria a linguagem
com que foi criado o universo. No caso
da ficção, em que o ficcionista é quase um deus, não é bem isso o que acontece,
já que quem produz ficção se baseia no real, coisa que não se faz quando não existe
nada, como na história bíblica. Mas isso
não é o mais importante. Importante
mesmo é saber que a língua não é só um instrumento de comunicação: é também um
instrumento de manipulação e controle das massas.
COMUNICAÇÃO
1. Conceito de comunicação: É o ato de tornar comuns os sentimentos e
as ideias através de uma mensagem.
2. ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO E FUNÇÕES DA LINGUAGEM (TEORIA DA COMUNICAÇÃO, DE JAKOBSON)
Assunto (ou referente):É o tema da
mensagem. (Liga-se à função referencial,
denotativa.)
Emissor: É quem fala, escreve, toca
música, dança, etc. (Liga-se à função
emotiva.)
Receptor: É quem escuta, lê ou usa
qualquer sentido para decifrar uma mensagem.
(Liga-se à função conativa, apelativa.)
Mensagem: Filmes, peças teatrais, cartas,
músicas, romances, tudo isso são mensagens.
(Liga-se à função poética.)
Canal: É o suporte físico da
mensagem. Pode ser uma folha de papel,
mas também pode ser o muro de uma cidade.
(Liga-se à função fática.)
Código (ou linguagem): É o conjunto de
sinais (signos) usados para produzir sentido (ou para não produzir sentido
nenhum. (Liga-se à função
metalinguística.)
Função referencial: É a função que se
destaca quando o objetivo principal da mensagem é informar.
Função emotiva: Está presente em
discursos em que o emissor revela o seu mundo interior, como acontece em poemas
líricos e em exclamações que escapam da boca de pessoas que levam um grande
susto por uma ação assustadora ou inesperada, como em certas peças de programas
televisivos.
Função conativa, ou apelativa: É a
função predominante quando a intenção principal é a de convencer o receptor ou
mudar o seu comportamento. É graças a
essa função que a classe média de Teresópolis odeia tanto Lula e Dilma. Tal função se destaca em anúncios publicitários
de revistas, comerciais de televisão, comandos e textos argumentativos.
Função poética: Concentra-se na mensagem
e na sua estética.
Função fática: Nota-se quando é
valorizado ou iniciado o contato pelo uso do vocativo, como quando alguém diz:
"Oi, Fulano!" ("Fulano" é o vocativo: representa a pessoa a
quem se dirige a palavra). Nota-se
também no momento em que se testa o canal de comunicação, como quando atendemos
o telefone e dizemos: "Alô?".
Função metalinguística: Aparece em
mensagens cujo tema seja a língua ou a linguagem.
Pode-se estabelecer o esquema seguinte:
Elementos da comunicação e funções
da linguagem (Teoria da
comunicação)
Assunto (referente)
Função referencial
(Função denotativa)
Emissor
Receptor
Função emotiva Mensagem Função conativa (apelativa)
Função poética
Canal
Função Fática
Código
Função
metalinguística
GRAMÁTICA ADQUIRIDA E GRAMÁTICA
NORMATIVA
A gramática é um conjunto de regras de formação, seleção, combinação e
significação de palavras. Todos nós
temos uma gramática, que adquirimos SEM o esforço intelectual da aprendizagem
formal, ou seja: que adquirimos inconscientemente, já que, na infância, não
percebemos que estamos aprendendo a falar.
A nossa gramática adquirida é vigiada pela gramática normativa, ensinada
na escola. Pode-se dizer que ela se
subdivide em alguns ramos, a saber:
Fonética: Estuda o aparelho fonador e a produção de fones (sons usados
pelos falantes) em sua natureza MATERIAL; assim, constata a diferença entre a
pronúncia de um cearense e a de um carioca, que proferem a palavra "tia"
de formas diferentes: o som de "t" produzido pelo nordestino é o
alofone (variação de um fone) do "t" do carioca. Ambos os fones desempenham a mesma função, e
por isso correspondem ao mesmo fonema, que é o valor funcional (e não material)
do fone.
Fonologia: Preocupa-se com o
valor FUNCIONAL dos fonemas. Para ela,
não importa que o cearense e o carioca pronunciem "tia" de formas
diferentes, pois não foi comprometido o bom uso do vocábulo. O que interessa à Fonologia é o funcionamento
do fonema e o seu valor distintivo, já que ele é a menor unidade sonora dentro
da palavra; por isso "Bala", "Vala" e "Ala" são
palavras diferentes. A substituição de
um fonema, assim como a eliminação de um, causa diferença. Isso não interessa à Fonética. É como se a Fonética se preocupasse apenas
com a estrutura da cadeia (sequência) de fones, e a Fonologia, com o
funcionamento deles, assim como a anatomia estuda o corpo e a fisiologia, o
funcionamento.
Prosódia: É a identificação da sílaba tônica. As palavras abaixo têm entonações diferentes
(o acento prosódico, que nem sempre equivale ao acento gráfico, muda de lugar):
sábia sabia sabiá
Ortoepia (ou ortoépia): É a correta pronúncia das palavras. A ortoepia pressupõe a boa prosódia, embora a
prosódia de uma palavra possa ficar inalterada mesmo quando se comete erro de
pronúncia. "Flamengo" e "Framengo"
são nomes paroxítonos (a sílaba mais forte é sempre a penúltima), mas
"Framengo" é considerado barbarismo (um erro mesmo).
Ortografia: É a escrita correta das palavras. São muito arbitrárias as regras ortográficas
vigentes. Além disso, a grafia correta de
um termo nem sempre está de acordo com a ortoepia. "SuBLinhar", por exemplo, deve ser
proferido SEM encontro consonantal, desta forma: "Subilinhar". Ninguém está totalmente imune a erros. Quem se guia apenas pelo som corre o risco de
cometer cacografias; da mesma forma, quem leva em conta apenas a ortografia
acaba eliminando "erros" que nem existem. Um exemplo é a pessoa que lê
"dEsgraçado" em voz alta fazendo questão do /ê/, que é fechado,
quando "disgraçado" também é forma correta de pronunciar (a letra "e"
representa pelo menos três sons: o de /ê/, vogal fechada, o de /é/, vogal
aberta, e o de /i/ fraco). A grafia
correta é sempre a mesma, mas a pronúncia não.
Por fim: é a ortografia que estuda as regras de acentuação gráfica e as
formas variantes acolhidas pela norma culta padrão, tais como:
"fLauta" e "fRauta", "registar" e
"registRar" e outras.
Semântica: Estuda a significação das palavras. Nessa parte se encontram sinônimos,
antônimos, homônimos e parônimos. Creio
que a semântica não seja muito diferente da hermenêutica, que analisa o
significado das palavras dentro do texto.
Deduz-se que a semântica muito interessa aos dicionaristas, também
conhecidos como lexicógrafos. Vê-se que
ela se relaciona com a morfologia, posto que a classe gramatical de uma palavra
pode determinar o seu significado.
Morfologia: É a parte da gramática que estuda os morfemas, unidades
portadoras de significado. São eles: o
radical, a vogal temática, o prefixo, o sufixo, as desinências, as vogais de
ligação e as consoantes de ligação.
(Recorre à etimologia, a origem de uma palavra. Exemplo: o verbo "comer" tem como
radical o morfema "com-", mas a sua raiz, que é um radical mais
antigo, vem do verbo latino "edere".)
Ela também se ocupa dos processos de formação de palavra. Outro estudo importante que faz é o das
classes de palavras, ou classes gramaticais, que são dez. Algumas são variáveis, ou seja: sofrem a
flexão de gênero, a de número e a de grau (por isso o português é uma língua
flexiva); outras são invariáveis, como as conjunções. Uma coisa interessante que nos ensina é a
constatação de palavras cognatas (que têm o mesmo radical). Exemplos: COMUNICar, COMUNICação,
COMUNICabilidade, COMUNICado, COMUm.
Sintaxe: É o ramo da gramática que cuida da combinação e do
funcionamento das palavras. Divide-se
nos seguintes ramos:
análise sintática, que identifica as orações, os períodos e os analisa e
estuda os seus termos;
sintaxe de regência, relativa à dependência entre os termos
preposicionados ou não que vêm depois de um nome ou de um verbo;
sintaxe de concordância;
sintaxe de ordem, dentro da qual se estudam as regras de colocação
pronominal;
e sintaxe de pontuação.
Morfossintaxe: É a análise morfológica unida à análise sintática. Uma depende da outra. Um exemplo: Na frase
Márcio se opõe aos valores da classe média
o nome próprio é, obviamente, um substantivo, e uma das funções do
substantivo é a de sujeito, um termo essencial da oração. A relação classe gramatical-função sintática
(ou função sintática-classe gramatical) é morfossintática. Outra prova dessa relação é o fato de a
oração só existir quando há verbo na frase.
Ora, o que determina a classificação de uma palavra como verbo é a
morfologia.
DISCURSO
Ficou dito que apenas
seres humanos podem produzir discursos, que são feitos de várias formas. Filmes, pinturas, músicas, peças teatrais,
textos literários (e não literários também), tudo isso são discursos. Todo objeto simbólico é um discurso, porque
esse tipo de objeto produz um efeito nas pessoas que o decifram com os sentidos
e com o raciocínio.
Só para frisar o óbvio,
com a inevitável repetição: animais (refiro-me ao animais irracionais) não usam
símbolos: usam apenas índices; portanto, não produzem discursos.
O discurso é um efeito
da interação, e pode ser estudado de várias formas, a depender da perspectiva
teórica adotada.
Há os discursos
sincréticos, que usam tanto a linguagem verbal (língua) como outras
linguagens. Exemplos: histórias em
quadrinhos, filmes, canções.
Os discursos que usam
apenas palavras (linguagem verbal) podem ser estudados pela Linguística
Textual. Para ela, o texto é como uma
superfície com início, meio e fim.
A semiótica discursiva
leva em conta os percursos gerativos de sentido, que são três.
Os Estudos de Semântica
sabem que o significado das palavras pode ser estático, mas entende que o
sentido não se confunde com o significado: este é estável, mas aquele é
variável por ser determinado pelo contexto.
Assim, a pergunta "Como se sente?" feita por um médico tem um
sentido diferente do que teria se fosse feita em outra situação pelo profissional de outra área do conhecimento humano, ainda que o significado sempre seja basicamente o mesmo.
A perspectiva que mais
interessa em tempos de disputa pelo poder é a Análise do Discurso de linha
francesa. Para ela, o discurso é um
efeito, e o sentido também. Na verdade,
o discurso é um efeito de sentido.
Assim, se pela manhã eu digo que fiz o desjejum em vez de dizer que já
tomei café, causarei o seguinte efeito: pedantismo. (A língua é variável, e onde há variação, há
avaliação. Todos são julgados pelas
escolhas que fazem. A frase tem pleo
menos duas variantes, e em uma delas há o substantivo "desjejum".)
A AD parte do
pressuposto de que o não dito comparece no dito, porque só parte do dizer é
dizível. Assim, um dos editoriais de O
Globo não diz que quer os pobres fora da universidade pública, nem diz que é a
favor de que capitalistas (empresários) lucrem com o ensino superior privado,
mas sabemos que é isso o que o jornal quer, porque os sentidos são históricos,
e não de quem fala ou escreve. Sendo
históricos, são condicionados pelo inconsciente e pela ideologia (todos têm
ideologia).
Levando em conta a
história, o inconsciente e a ideologia (à qual as pessoas ficam submissas), a
AD não extrai apenas os sentidos do discurso: ela descobre também como e por
que se constroem.
A AD sabe que o sentido
de um texto ou discurso não é único: ele sempre pode ser outro, embora não
possa ser qualquer um. Assim, se eu
resumir a história do romance Drácula
de viva voz, o ouvinte não vai se lembrar de tudo depois que eu terminar o
resumo (e por isso vai haver um desvio de sentido), mas ele nunca vai entender
que Drácula é uma fada.
***
Como foram estabelecidos os conceitos aqui explicados, podemos estudar as diferenças entre a fala e a escrita na próxima aula.
Referências bibliográficas:
Referências bibliográficas:
ARANHA, Maria Lúcia de
Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1986.
FARACO, Carlo Emílio;
MOURA, Francisco Marto. Literatura Brasileira. 17ª edição.
São Paulo: Editora Ática, 2003.
MONNERAT, Rosane; VIEGAS, Ilana Rebello.
Português I
(vol. 1). Rio de
Janeiro: Fundação Cecierj, 2012.
MEDEIROS, Vanise;
SOUSA, Silvia Maria de. Linguística I (vol. 1). Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2012.
ORLANDI, Eni
Pulcinelli. O que é Linguística. São Paulo:
Editora Brasiliense, 7ª edição, 1994.
SAUSSURE,
Ferdinand. Curso de Linguística Geral.
(Tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein.) São Paulo: Cultrix, 20ª edição, 1995.
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